domingo, setembro 21, 2025

MARY OLIVER, TATIANA DE ROSNAY, BRENDA MILNER, OVOS DA RAPOSA & CONTEMPLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Scriabin: Sinfonia nº 2 - The Poem Of Ecstasy (2023), Danielpour: Passion of Yeshua (2020), Concerto para Piano 'Spiritualist'; Poems Of Life; Glacier; Rush (2019) e Mr. Tambourine Man: Seven Poems of Bob Dylan – John Corigliano (2009), da maestrina estadunidense JoAnn Falletta.

 

A pedra da tarde mormaçada ou a princesa & o plebeu... - Naquela tarde domingueira Virginácia, ou melhor, Gigi queria ser a princesa Jenny, um sonho alentado desde o dia do repentino noivado e um inusual presente: um livro. Isso? É uma linda história de amor. Você é comunista? Não. Mas? Ora, é história de uma princesa de verdade e um plebeu filósofo – quase como nós dois -, foram escorraçados e se amaram até a morte. Ih, não venha com coisas bizarras pra minha banda, sou achegada não, viu? Ah, meu amor! Ela resistiu, mas logo dissipou sua intransigência vencida pelos agradinhos e ajeitados, findaram aninhados. Galante vira-lata cheio das pregas, ele logo se apaixonou por ela a ponto de ficar girando em torno de si, aos rodopios. Tá doido? Não sabia, coitada, era a forma dele afastar os seus 600 diabos e todos os demônios, para mantê-la íntegra ao decoro. Vixe! Aqui tem história. E tinha mesmo. Prest’enção! Ela lídima nívea mimada, uma Lulu da Pomerânia, menina dos olhos paternos, agora tomada pelas delícias de Cápua, aos devaneios da felicidade. De súbito foi assaltada pelo entusiasmo do casal Shih Tzu, os seus padrinhos para a cerimônia, com uma torrente ruidosa de simpatia. Logo também envolvida pelo eufórico par Chow Chow, paraninfos do noivo, acenando pro Monge de batina, lá no altar em posição Padmasana – a Postura do Lótus, enquanto aguardavam convidado ilustre para a solenidade: o Padre Bidião. Não demorou muito a saudação da distinta dupla chihuahua, Peanut e Cashew, vindos do Texas acompanhados de extensa comitiva, exclusivamente para prestigiarem o desponsório. Entre os convivas estava o excitado duo Beagle, na convocação de todos para o compadrio na divertida pulada de fogueira. Um Golden Retriever tocou fogo e o Akita Inu gritou: Quem quer ser o primeiro? Tiraram no ímpar ou par, e o Pastor Belga Groenendael foi o primeiro a saltar. Depois pinotou o Dálmata desajeitado, o Yorkshire Terrier seguiu atrás, juntamente com o Bulldog que refugou da pulada e o Poodle que se disse indisposto. Preferiram estes na acolhida aos recém chegados Lhasa Apso e Pug, dando conta que o Dachshund delatou o comparecimento de celebridades famosíssimas por ali. Mesmo? O Rottweiler logo destacou a presença do leal Hachiko, aquele mesmo que esperou o dono falecido por anos na estação de comboio. Ao lado, o husky Balto ostentava sua bengala e rica indumentária, contava do que foi ter liderado uma equipe na entrega de cura para a epidemia. Que xique! Olha lá os astronautas Laika, Belka e Strelka! Vê ali o terrier Stubby, herói da primeira guerra! Minha nossa! Enquanto uns saltavam, os que já haviam pulado passaram para a corrida do anel. Entre dobradas ovações e simpáticas aclamações, os partícipes logo formaram um círculo, definiram o passador e escolheram quem ia adivinhar. O escolhido fechou os olhos e ao se passar a argola veio o sinal: Adivinhe agora com quem está o anel! Justo na ocasião em que fora anunciada a atração do momento: o condecorado viajante vira-lata Oscar! Também deu as caras o célebre labrador Rupee, que papeava com a bela yorkshire Smoky, arrodeados pelos não menos notáveis Chips, o border collie Pickles, o pug Pongo da Donna Tartt, o Ulisses da Clarice Lispector, o K do Kafka, a Pinka da Virginia Woolf, a Baleia do Graciliano Ramos, o Biruta da Lygia Fagundes Telles, o Bruno Linchtenstein e o Zig do Rubem Braga, e o Firififi do Dalton Trevisan. Uma roda de eminentes, hem? Mais abrilhantaram o pagode o glamour de Misty da Dorothy Parker, o da Cegueira e o do Cerco de Lisboa do Saramago, o Pingo-de-ouro do Guimarães Rosa, Tusca de Marina Colasanti, o mascote Bi que driblou Garrincha, o arqueólogo Robot, a salva-vidas Safira, até o Rhodesian ridgeback – o famoso cheira-cu leão-da-rodésia caçando o rei da selva. Por aqui? Pois é. O faro falhou, errou o caminho e resolveu entrar no fuzuê. Depois se juntaram a todo tipo de perros, sabujos, galgos, rafeiros e guenzos. Menos Kratin que se perdera na festa do céu. A patuscada foi muito badalada, noticiada em todas as colunas sociais do mundo. Nada mais concorrido, pois, mais chegaram de parecer não acabar mais, todos sobrecarregados de muitas congratulações. Foi quando o noivo deu sinal de vida, logo se dirigindo à sogra, com um buquê de flores e graciosamente galanteou: Minha noiva é muito linda, tem a quem puxar. De fato: bastou avistar a moça que seu coração imediatamente suspirou. Tonou-se poeta de última hora para a mais bela que havia na face da terra, segundo seus esbugalhados olhos. E logo se enamorou de fazer plantão à porta dela. Providente, atencioso, prestativo. Até que ela cedeu e se enrabicharam. Quando ele falou namoro a ela, a coitada engasgou-se, dele ter de fazer uso da Manobra de Helmlich e toda sua experiência de paramédico. Salvou-lhe a vida. Quem era esse herói? (Suspense! BG: Introdução da Sinfonia do Destino de Beethoven). O pároco esperado logo chegara, acompanhado de um séquito de sacerdotisas bidiônicas que logo se ocuparam em preparar a noiva para o conúbio. O sacerdote despertou o Monge, abraçaram-se efusivamente e passaram a saudar quem aparecesse. Depois dos cumprimentos, acenaram pro maestro e todo mundo passou a ser embalado pelo trio pé-de-serra do MarcAntonho - que, com o seu trio de pequineses amestrados, era chute no bombo, dedo na sanfona arreganhando o fole e amolegado no tilingo-tingo-lingo-tingo no triângulo. Eita, que esse trupé é ineivado todo! No meio da folia toda, deu-se a chegada da noiva acompanhada pelo pai e na mais requintada elegância - e o trio atacou castigando na marcha nupcial xoteada. Era chegada a hora. Com um estrondo demorado parou o som e Padre Bidião convocou a todos para a hierogamia: Adeste Fideles! O Monge, ao seu lado, voltou a meditar, quando ele fez menção solene ao microfone: Ad bene placitum! Oxe! Nessa hora caiu o maior toró. Valei-me! O vigário foi ao topo do altar e, diante dos esponsais defrontados, nas bençãos do deus Xolotl, despiu-se seguido por todas as pítias nuas ajoelhadas. E tome chuvada! Era hora do ritual e a consorte ajeitou-se sentando-se sobre o ventre do prometido, passando os braços por seu pescoço – fez como as Adoradoras de Amon, em homenagem às graças dos muitos seios da corpulenta deusa etrusca da Fescênia, Tellus -, e recitou pra ele: Somos receptáculos no rito da Sacralização da Vida. Ele retribuiu com um beijo afetuoso em seus lábios, disposto a se sacrificar por ela na libação da Fordícia. Seguindo toda ritualística, o ápice da liturgia foi com o momento em que ambos haviam de selar o juramento: atravessarem juntos o seu Canal da Mancha. Sim, E tome temporal! O clérigo então sentenciou: Jacinto Tobi e Virginácia Tetéia, eu, pelos poderes a mim conferido, os declaro esposos por toda duração deste enlace! Agora pode beijar a noiva! Viva! E, afinal, estiou: Alá seja louvado! E se dirigiram todos para a inauguração do monumento providenciado pelos sogros: uma enorme escultura feita de pedra branca para selar a felicidade dos cônjuges. Houve uma salva de tiros de rifle, foguetões e vivas. Os cantadores louvaram os pretendentes, anunciando que já era a hora da quadrilha. MarcAntonho deu o grito de guerra pra bicharada: Viva Hermeto, Sereiarei! Às lapadas no festejo. Como manda o figurino, o eclesiástico perfilou-se ao lado do Monge e gritaram em uníssono: En avant tous! Todos responderam: Alavantu! En arrière! E todos: Anarriê! MarcAntonho agarra o microfone e sapeca tonitruante: O furor da contradança \ onde todos nós se vê \ já se escuta a sanfoninha \ já se sabe o balancê. E lá iam todos ensaiando no balanço 6/8 e 2/4. Os pares perfilados de braços dados e os noivos defronte da fila, era o caminho da festa e eles no idílio de Dáfnis e Cloé. Anarriê! E era como se fossem ali Endimião ao lado de Selene. As damas cumprimentavam os cavalheiros – eram eles Eurídice e Orfeu. Saudação geral e foram pro balancê! E gingavam feito Brunehilde e Gunther, dele pra ela: À primeira vez que lhe vi... ah, sentiam-se: Florentino & Fermina da Cólera de Garcia Márquez. MarcAntonho gritou logo: Vamos dançar fandango no chumbregado! Olha o túnel! – e atravessaram como se fossem Filemon e Baucis. Olha o grande passeio! – e passearam como se fossem Paulo e Virginia. Damas ao centro! Aí começou o tititi delas e soube, então, da vida dupla dele... Como é que é? Coroa de rosas! Descoroar! Damas procuram seus cavalheiros e qual enamorados Tristão e Isolda, ela sussurrou: Hei de escrever teu nome \ na folha de bananeira \ és o moço mais bonito \ da província brasileira. Caracol! Caminho da roça e eles: Alfeu & Aretusa, dele pra ela: Sou o herói pirogenético, o senhor do fogo, e quero com você enfrentar tudo, como Artur e Isadora, da Pedra do meio dia, de Bráulio Tavares. Olha a chuva! – e se protegeram como se fossem Hero e Leandro. Já passou! Aaaah! – e se sentiam Pigmalião e Galateia. Olha a cobra! Deu-se um pandemônio. Calma gente, já mataram! Aaaah! – e folgaram como Kremilda e Sigefredo. A ponte quebrou! E agora? Meia volta! – e voltaram como Píramo e Tisbe. Já consertou! E dançavam enlevados, dele pra ela: Você é a minha Thêmis e já vejo nossas filhas: Irene, Eunomia e Dirce, brincando no terreiro. Agora é a vez do galope! Agitê! Os noivos saíam de mãos dadas, todos acompanhavam seus passos. Preparar para o viva, viva os noivos: viva! Viva os convidados: viva! Preparar para o grande baile! Dancê – e foram embalados pela Valsinha de Vinicius&Chico. Coisa quase interminável. Lá pras tantas, ao final rolou de tudo: pandeirinha, dança da saia, rala o côco mexe a canjica e outras que só pararam no grito de ordem: Agora, a despedida! Padre Bidião fez a vez do Lázaro santo e abençoou os festejos. Muitos salves e vivas, quem fez promessa teve sua graça na hora. Quase anoitecia e era a hora do banquete, um suntuoso regabofe preparado por renomado Cordon Bleu, que foi trazido a peso de ouro para o luxuoso repasto. Só tem ração? Destamparam as panelas e a comida farta de montão. A mundiça voou em cima estraçalhando a farta refeição: galinha caipira, carne de porco e carneiro; feno e alfafa; batata-doce, cenoura, abobrinha, mandioca, inhame e cará. As verduras benéficas: couve, espinafre e brócolis, banana, pera e maçã, tudo de montão. E mais, pros convivas: a decoração estava um primor; enfeites, ração de todo tipo, petiscos e ossos, bifinhos, cremosos, biscoitos, bolos e chocolates, bebidas e molhos, E arrocharam nos adereços: tapetes, fraldas e banheiros, cones, farmácia para medicamentos, antipulgas e carrapatos, banho terapêutico, roupas cirúrgicas, colares elizabetanos, brinquedos, frisbees, mordedores, coleiras, guias e peitorais, perfumes e colônias, pentes, escovas e rasqueadeiras, lenços umedecidos, máquina de tosa e acessórios, eliminador de odores e desinfetantes, repelentes e atrativos, camas e cobertores, almofadas e colchonetes, casas e tocas, comedouros, bebedouros, jogo americano, mamadeiras, bolsas de transporte, carrinhos, cintos de segurança, cadeirinhas, portões, grades e escadas, canil, roupas, focinheiras e enforcadores, gaiolas e viveiros, criadeiras, aquários e beteiras, serragens e granulado. Era o paraíso! E enquanto todos se empanturravam com os comes & bebes, ela pensativa: só nesse dia soubera quem era mesmo aquele que havia se apossado do seu coração. Sim, aquele que chegara de supetão com um poema Coup de foudre, querendo casar a fim da força, às pressas como aquele da Irremediavelmente felizes, do Fernando Sabino - e mostrando o nome dela escrito no solado do sapato. Queria desposá-la e foi de fio a pavio com todos os rr e ss e um pé nas costas. Foi num vupe só! Só que ele tinha uma identidade secreta. E apesar de ser um imenso vira-lata, não só latia, farejava e balançava o rabo que não mais havia. Ele sabia de tudo, até filosofava estoicamente poético por se achar incumbido de tomar conta de tudo e do mundo todo, responsável vigilante, com seu quepe de sempre e um distintivo no peito. E ria da desgraça porque era bombeiro nos incêndios, salva-vidas nas praias, mecânico, eletricista, borracheiro, mais tivesse e aparecesse. Controlava as estações e quando o dia nublava cobrava a responsabilidade do Sol que logo fulgurava atendendo suas ordens. Supervisionava e onde houvesse injustiça agia como um super-herói na defesa das vítimas. Gerenciava a Lua e as estrelas, zelava pelo pacífico descanso noturno. Ordenava estiar a chuva torrencial, advertia o rio e, quando este ameaçava transbordar acabava com a festa da maré cheia limitando-lhe o avanço. Como via almas do outro mundo, botava os fantasmas nos conformes e desconfiava de vaticínio suspeitoso e funestas ameaças. Combatia qualquer situação de risco e perigos, desabamentos, perturbações, epidemias, atos de vandalismo e terrores; judicava pendengas e rixas, aviava pedidos e pendências, salvava suicidas, levava as crianças à escola e ensinava a elas a lição; ministrava os primeiros socorros nos acidentes, atravessava velhinhos nas esquinas, surpreendia o sono dos porteiros e vigias noturnos, limpava as ruas e calçadas, mantinha os parques e praças em ordem, examinava o desenvolvimento de plantas e árvores, o comportamento das pessoas e animais; inspecionava a temperatura, conferia as horas; passava em revista todos os moradores, vistoriava encontros conjugais e namoricos, monitorava o voo dos pássaros e insetos. Se o semáforo pifasse, ele mantinha o trânsito; se um ladrão surrupiasse algum transeunte, ele o capturava, levando-o à prisão, devolvendo os pertences à vítima; se algum bêbado trocasse as pernas e saísse da normalidade, ele o guiava até local seguro. Alguém adoecesse, ele providenciava ambulância e atendimento médico, organizava filas, admoestava passantes, enfim, um arsenal de competências e habilidades tão incomuns e reunidas num só ser. Assim mantinha sua identidade secreta e tudo corria normalmente. Ela pensava consigo: Como conviver com ser tão extraordinário? Entre elucubrações foi surpreendida com o padre Bidião, que presenteou ao casal uma lua de mel inesquecível: hóspedes da Caverna do Amor, na Cornualha, Inglaterra, convidados pelo anfitrião Gottfried von Strassburg. U-hu! Ao se despedirem anunciaram o Almoço da Boda para quando retornarem. Seguiram sob o manto de Vênus Afrodite aos rituais da corte de Citera. Antes, porém, ela o fez jurar que morreria talqualmente a princesa Jenny: aos beijos. E o amor fez a festa enquanto duraram apaixonados. Até mais ver.

 

Nicola Griffith: Ler é a porta de entrada para tantas coisas que torna possível que sete bilhões de pessoas vivam juntas em um planeta. A literatura é a grande guardiã extrassomática do nosso conhecimento sobre o que é ser humano. Ler nos eleva. Lemos para sermos a melhor versão de nós mesmos... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Laura Esquivel: Cada um de nós nasce com uma caixa de fósforos dentro de si, mas não conseguimos acendê-los sozinhos; assim como no experimento, precisamos de oxigênio e de uma vela para ajudar. Neste caso, o oxigênio, por exemplo, viria da respiração da pessoa que você ama; a vela poderia ser qualquer tipo de alimento, música, carinho, palavra ou som que gere a explosão que acende um dos fósforos... Veja mais aqui & aqui.

Eleanor Catton: O amor não pode ser reduzido a um catálogo de razões, e um catálogo de razões não pode ser reunido no amor... Uma mulher caída não tem futuro; um homem ressuscitado não tem passado... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

CONVITE

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ah, você tem tempo \ para ficar \ um pouco \ longe da sua correria? \ e um dia muito importante \ para os pintassilgos \ que se reuniram \ num campo de cardos \ para uma batalha musical, \ para ver quem consegue cantar \ a nota mais alta \ ou a mais baixa, \ ou a mais expressiva das alegrias, \ ou a mais terna? \ Seus bicos fortes e rombudos \ bebem o ar \ enquanto eles se esforçam \ melodiosamente \ não por você \ e nem por mim \ e não por uma questão de vitória, \ mas por puro deleite e gratidão – \ acredite, dizem eles, \ é uma coisa séria \ apenas para estar vivo \ nesta manhã fresca \ neste mundo quebrado. \ Eu imploro a você, \ não passe \ sem parar \ para assistir a essa \ performance um tanto ridícula. \ Poderia significar alguma coisa. \ Poderia significar tudo. \ Poderia ser o que Rilke quis dizer quando escreveu: \ Você precisa mudar sua vida.

Poema extraído da obra A Thousand Mornings (Penguin Books, 2013), da premiada poeta estadunidense Mary Oliver (Mary Jane Oliver - 1935—2019).

 

OBSERVADORA DA CHUVA – [...] Quando a natureza se irritava não havia nada que o homem pudesse fazer. Absolutamente nada... [...] Começarei pela árvore. Porque tudo começa e termina com a árvore. A árvore é a mais alta. Foi plantada muito antes das outras. Não sei exatamente quantos anos tem. Talvez trezentos ou quatrocentos anos. É antiga e poderosa. Resistiu a tempestades terríveis, protegeu-se contra ventos desenfreados. Não tem medo. A árvore não é como as outras. Tem seu próprio ritmo. A primavera começa mais tarde para ela, enquanto todas as outras já estão florescendo. No final de abril, as novas folhas ovais brotam lentamente, apenas nos galhos superiores e do meio. Caso contrário, parece morta. Nodosa, cinzenta e murcha. Gosta de fingir que está morta. É assim que ela é inteligente. Então, de repente, como uma enorme explosão, todos os brotos florescem. A árvore triunfa com suas copas verde-claras. [...] Eu não conseguia entender a morte. Não sabia o que era. A única maneira de medi-la era pelo fato de não conseguir mais ouvir a risada do meu avô. [...]. Trechos extraídos da obra The Rain Watcher (Large Print Pr, 2020), da escritora francesa Tatiana de Rosnay, autora de obras como The Other Story (2013), The House I Loved (2011), A Secret Kept (2009) e  Sarah's Key (2006).

 

FAÇA O QUE GOSTA - [...] Se você está na carreira errada, não hesite em mudar. Eu poderia ser um professor de matemática medíocre no ensino médio hoje. [...] Comecei a realizar pesquisas no MNI e soube imediatamente que esse era o tipo de trabalho que eu queria seguir, independentemente das dificuldades práticas. [...]. Trechos da entrevista I'm still nosy, you know (The Neuro - Montreal Neurological Institute-Hospital, ), concedida pela neuropsicóloga canadense Brenda Milner, que contribuiu com sua pesquisa na área de neuropsicologia clínica, razão pela qual é considerada como a fundadora da neuropsicogia, tornando-se membro da Royal Society, em 1979. Veja mais aqui.

 

OS OVOS DA RAPOSA

A premiada série Os ovos da raposa foi escrita e dirigida por Valdir Oliveira, com produção da Cabra Quente Filmes e consultoria de 3 Brasis, contemplada com o prêmio Brasil de Todas as Telas, da Ancine. Trata-se de uma sátira política inspirada no anedotário popular do Nordeste brasileiro e que se desenrola na fictícia cidade de Bakatu. São 13 capítulos de 26 minutos de duração cada, totalizando 318 minutos de uma obra que foi rodada nas cidades de Paudalho, Igarassu e Recife. O autor é escritor, roteirista, diretor e jornalista, atua em diversas linguagens, inclusive teatro, cinema, televisão. Ele é autor de inúmeras peças teatrais encenadas em palcos do Recife, como também de livros publicados destinados ao público infanto-juvenil e adulto, com trabalhos exibidos na Rede Globo, Globo Nordeste, SBT e TV Brasil. É diretor e roteirista de telefilmes, como A Promessa de Jeremias (Globo, 1990) e do vídeo sobre a Sulanca (Fantástico, Globo), além das séries Santo Por Acaso, Cruzamentos Urbanos, do curta Tocaia Para Jacó, entre outros documentários. Veja mais  aqui.

&

CONTEMPLA

A exposição Contempla reúne 150 artistas visuais, fotógrafos e poetas na Galeria Mario Schenberg, do Centro Cultural da Funarte São Paulo. A abertura ocorrerá próximo dia 27 de setembro, com presença de artistas de diversos Estados, além de momento de Poesia e Performance com poetas presentes. O evento conta com curadoria geral de Isabela Simões, produção cultural de Augusto Herkenhoff e curadoria literária: Tchello d’Barros. A exposição ficará até 26 de outubro, de quarta a domingo, das 14 às 19h, a visitação é gratuita. Veja mais aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.


 


domingo, setembro 14, 2025

NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon, 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Traviata (Deutsche Grammophon, 2005), Verdi’s La Traviata (Deutsche Grammophon, 2006), The Opera Gala (Deutsche Grammophon, 2007) & Anna Netrebko Live At The Metropolitan Opera (Deutsche Grammophon, 2011), da soprano russa Anna Netrebko (Anna Yuryevna Netrebko). Veja mais aqui.

 

Reiteramentos setigonais: só a poesia torna a vida suportável!... - O fim foi anunciado na escatologia da contemporaneidade, detectado pela frase de Theodor Adorno: Depois de Auschwitz, a poesia não é mais possível! Ninguém mais poderia olvidar nem mesmo ficar indiferente à barbárie e o que já vinha desde o século 19, convencionando-se que o poema, depois de Mallarmé, era um inevitável fracasso, uma obra falhada. Em meados do século 20, na Die Panne (A Pane – uma história ainda possível) de Dürrenmatt, a indagação: Existem ainda histórias possíveis? – e a obra foi adaptada para o cinema com o título La più bella serata della mia vita (ou seja, A mais bela noite de minha vida), dirigido pelo Ettore Scola. E o tempo passou, como dizia Mário Faustino, neste mundo infame como ainda é o nosso. O estardalhaço das mortíferas bombas deixou escapulir o recado de Apollinaire: a de que a função social do poeta era renovar incessantemente a aparência de que se reveste a natureza aos olhos dos homens. E acompanhado de um puxão de orelha do Ernst Fischer: a função da arte é abrir portas fechadas. Aí Salman Rushdie pegou pesado: É a função do poeta: nomear o inominável, apontar as fraudes, tomar partido, despertar discussões, dar forma ao mundo e impedir que adormeça. Estávamos em plena guerra fria e atravessando sucessivas crises capitalistas, até nos deparar com a tão fartamente anunciada pandemia. Nessa barafunda toda, eis que surge o Setígono! E o que é isto? Apesar de novíssimo - só tem 5 aninhos e uma antologia festejada pela Noi Soul -, há uma vastíssima definição. Veja-se: para o cocriador Admmauro Gommes é um poema formado por 7 versos: um novo mundo criado em 7 dias. Para outro cocriador, Cicero Felipe: poema perfeito. Já para outros participantes do modelo poético, como Pedro Henrique: transcende a vida. Daí por diante, para Wilson Santos: uma obra de arte! Mari Rima o definiu como: uma arte viva terapêutica, em sete doses sem contraindicação, além de unir povos. Sylvia Beltrão: vacina e cura; Ivon das Aldeias: é ser no presente: o passado e o futuro; Caio Vitor Lima: um exercício complexo de metalinguagem; Enoque Gabriel, o Lorde Égamo: uma constelação brilhante com sete notas musicais, sete fôlegos de felino, sete astros brilhantes no espaço poético sideral – inclusive, ele está lançando um livro com e sobre o tema. Para Adailton Lima: é vida que pulsa, um mundo em sete versos. Para Pamella Emanuella: uma reinvenção exibindo não só poesia e forma, como também uma filosofia implícita. Já no dizer de Romilda Andrade: é a criação e resposta perfeitas para o nosso tempo, uma vez que o leitor, ao decodificá-lo, imprime suas sensações e denota para si o significado. Doutro modo expõe Patuska Quokka: instiga diálogos poéticos, oferta inúmeras possibilidades para inspirações a revigorar o sentir, o criar e o idioma. Na ótica de Rosa Custódia: conecta corações, tantos corações apaixonados. Na definição de Hanna da Hora: sempre pede bis! E Carlos Roberto alerta: Leia com atenção! Aí a Maria de Lourdes Joana Ribeiro saúda: é bom, muito bom, é muito bom setigonar. E na visão da designer gráfica do livro Setigonando a vida, Ana Luisa Monteiro: é o imagético em 7 pedaços, o vermelho nas extremidades realçando as cores do arco-íris na bandeira pernambucana. Enfim, sintetiza o cocriador Durán: uma festa, um vulcão em erupção! Daí o convite da Jaque Monteiro: Vamos setigonar, esse brasileirinho ousado! – ela também está lançando, em parceria com a Noi Soul, um livro com diversas formas de setígonos: fractal, prosa setigonal e o sui gêneris. (E só para constar: já são cometidas variadas tipologias setigonais, como o concatenado, o maior, o de rima única, o cruzado, o concatenado fechado, e por aí vai). Em resumo: um eflúvio num mundo entre a pandemia devastadora, a iminência de uma estúpida 3ª guerra mundial e a reboque do letal domínio de capital caprichoso do zilionário umbigocentrismo mercadológico. Cabum! Ou seja: pelo visto, parece mais atrevido ramo de pujante florzinha brotando serelepe numa rachadura tumular de asfalto bruto. Tá. E eu digo: Néstogas! (outra invenção do AG). Sim e digo deixando de pacutia e passando a régua, a reiterar: Antes do Fiat Lux havia apenas néstogas! E por isso tive de vivenciar uma iniciática condução alquímica pelo Graal na Tábua de Esmeralda do Corpus Hermeticum, alinhando os planetas à luz dos princípios matemáticos das mônadas e cheguei à conclusão: o setígono é mesmo néstogas! – o que foi, é e será mutuamente progressivo em número, grau e gênero! E é um enigma cabalístico: 2*5&5*7 - Dois versos saltam do escuro. Cinco emoções exorcizam as dores. Eis as sete razões pro poema salvar sua vida! Até mais ver.

 

Judith Schalansky: Ao escrever, assim como ao ler, uma pessoa pode escolher seus próprios ancestrais e estabelecer uma segunda linha hereditária intelectual para rivalizar com a herança biológica convencional... A escrita não pode trazer nada de volta, mas pode permitir que tudo seja vivenciado.... Veja mais aqui & aqui.

Anna Deavere Smith: Cada pessoa tem uma literatura dentro de si... Este momento se insere na tradição da poesia e da arte de protesto que remonta a séculos. Espero que essa dor leve a belas obras de arte... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Tamika Mallory: Estamos em estado de emergência... Veja mais aquí.

 

SÚPLICA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Tirem-nos tudo, \ mas deixem-nos a música! \ Tirem-nos a terra em que nascemos, \ onde crescemos \ e onde descobrimos pela primeira vez \ que o mundo é assim: \ um labirinto de xadrez… \ Tirem-nos a luz do sol que nos aquece, \ a tua lírica de xingombela \ nas noites mulatas \ da selva moçambicana \ (essa lua que nos semeou no coração \ a poesia que encontramos na vida) \ tirem-nos a palhota  ̶ humilde cubata \ onde vivemos e amamos, \ tirem-nos a machamba que nos dá o pão, \ tirem-nos o calor de lume \ (que nos é quase tudo) \ - mas não nos tirem a música! \ Podem desterrar-nos, \ levar-nos \ para longes terras, \ vender-nos como mercadoria, \ acorrentar-nos \ à terra, do sol à lua e da lua ao sol, \ mas seremos sempre livres \ se nos deixarem a música! \ Que onde estiver nossa canção \ mesmo escravos, senhores seremos; \ e mesmo mortos, viveremos. \ E no nosso lamento escravo \ estará a terra onde nascemos, \ a luz do nosso sol, \ a lua dos xingombelas, \ o calor do lume, \ a palhota onde vivemos, \ a machamba que nos dá o pão! \ E tudo será novamente nosso, \ ainda que cadeias nos pés \ e azorrague no dorso… \ E o nosso queixume \ será uma libertação \ derramada em nosso canto! \ - Por isso pedimos, \ de joelhos pedimos: \ Tirem-nos tudo… \ mas não nos tirem a vida, \ não nos levem a música!

Poema da escritora, jornalista, tradutora e ativista política moçambicana Noémia de Sousa (Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares – 1926-2002), autora do livro Sangue Negro (2001), condensando a sua produção poética de 1948 a 1951.

 

VIVER A VIDA[...] Tive que lutar essa batalha como se estivesse em um ringue de boxe — com o público e a imprensa... e ainda sou chamada de vagabunda... [...] Eles definitivamente me veem como uma mulher empoderada fazendo o que queria fazer contra todas as probabilidades naquela época... [...]. Trechos da entrevista How Pamela Des Barres Finally Transcended ‘The Band (Los Angeles Magazine, 2025), concedida pela escritora, atriz e musicista estadunidense Pamela Des Barres (Pamela Ann Miller), autora do livro de memórias I'm with the Band: Confessions of a Groupie (1987), no qual detalha suas experiências na cena musical dos anos 1960 e 1970, em que atuou produzindo os GTOs, grupo de música experimental de Frank Zappa. Ela também publicou outro livro de memórias, Take Another Little Piece of My Heart: A Groupie Grows Up (1993), inspirando o filme Almost Famous (2000), de Cameron Crowe. É autora de outras obras como Rock Bottom: Dark Moments in Music Babylon (1996); Let's Spend the Night Together: Backstage Secrets of Rock Muses and Supergroupies (2007) e Let It Bleed: How to Write a Rockin' Memoir (2017). Veja mais aqui & aqui.

 

A VIDA AOS 50... – [...] Adoro novos desafios e cresço com eles... [...] Nasci assim, com um forte senso de perfeccionismo. Por outro lado, tenho a capacidade de me perder completamente na natureza. Quando estou na floresta, realmente sinto meu eu interior. É uma mistura de alta aspiração e completa modéstia... [...] Um dos meus objetivos é ajudar a fazer a diferença na educação de meninas em outro país. Quero me envolver em uma organização beneficente que se concentre na educação feminina, porque a educação é o bem maior. É muito importante.... [...] Eu celebro minha vida e todos que fazem parte dela. Só quero agradecer a todos que viajaram comigo ao longo dos muitos anos... [...] Eu sempre tento aproveitar ao máximo minha situação e entender a mensagem. Sempre há uma mensagem. [...] Trechos recolhidos da entrevista (Discover Germany, Switzerland and Austria), concedida pela escritora, atriz e modelo alemã Ursula Karven, autora dos livros Yoga für die Seele (2003), Sina und die Yogakatze (2005), Das große Babybuch (2006), Das große Schwangerschaftsbuch (2006), Sinas Yogakatze und der singende Weihnachtsbaum (2007), Yoga für Dich (2007), yoga für dich und überall (2007), Yoga del Mar – Power Yoga II (2009), Mein Kochbuch für Kochmuffel (2011) e Loslassen Yoga-Weisheiten für dich und überall (2013).

 

AULA-ESPETÁCULO DE MARCONDES BATISTA

Neste 16 de setembro, das 14 às 17h, o IbaValeUna promove a Oficina de Desenho & Pintura – aula-espetáculo gratuita com o artista Marcondes Batista. Imperdível. Veja mais aqui, aqui & aqui.

&

SEMINÁRIO MALUNGUINHO & CATIMBÓ NA JUREMA

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domingo, setembro 07, 2025

YŌKO TAWADA, BRENÉ BROWN, ALEYDA QUEVEDO ROJAS & JESSICA MARTINS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som da obra multimovimento Sarojini (2022), da compositora, etnomusicóloga e vocalista estadunidense Shruthi Rajasekar, com o Hertfordshire Chorus, maestro David Temple.

 

O avestruz & a ema: ratitas do harém 5x9... - Avelino se autoproclamava poeteiro: um bloco de notas à mão, uma caneta presa numa orelha, um verso pronto na ponta da língua. Poeta ou punheteiro? E com seu ar afetado e voz empostada, respondia: - O maior de todos! -, assumia um e outro montado na sua bufonaria, com aquele fraque bufento de sempre, ornado por uma aparatosa gravata borboleta, realce de seu ar pueril. Na verdade, ele almejava era ser o protagonista da crônica de Mário Prata, imitando as palavras daquele gris do António Botto: Sim; eu sofro sem dizer nada... E alentava a esperança de ser considerado o único macho preto, com as pontas das penas brancas, do tipo lírico do Couto Viana: ... a absurda fantasia \ de me esconder na poesia, \ por crer que ninguém a lê. Exibia-se cerrando as sobrancelhas negras, os olhos grandes arregalados, os coices poderosos cheios de pantins e a coreografia das asas atrofiadas no gingado de penas – de um só golpe matava um leão e aprontava suas asas para o acasalamento: a pata de dois dedos chutando o ar. Era a sua performance e glória em cada esquina, diante de uma claque incrédula de estrutios - struthios avis. Ali cometia suas récitas, seus trágicos monólogos com heroicos atos de seus antepassados; seus solilóquios melodramáticos, suas narrativas de voos de quem nunca sequer pinotou do chão, travessias desérticas e estelares improváveis, amocegamentos siderais de loucuras, tudo isso por épicos, éclogas, odes, elegias, até sátiras esborravam de seu ar risível - as epopeias das suas jactâncias inventadas: ninguém engolia suas loas, deveras. Teatralmente deitava a cabeça sobre a grama alta para, disfarçando-se e, ao mesmo tempo, pro alerta da aproximação de passos inimigos. Vivia no teimoso encalço de uma Aepyornis de Madagáscar – a ave-elefante, diziam extinta para nunca mais, coitado. Era a sua fantasia de consumo – chega inchava enfatuado. O bom mesmo pra ele era que ali a força patriarcal do sultanato era melhor que Maceió: 5 fêmeas prum macho só. U-hu! Ele sorria e versejava: Está na natureza! E timbungava sério, batia no peito e se arvorava: Sou o mais resistente, há 8 dias de sede e nem morri! Cantarolando moda feito o Pau de Arara do Lyra/Vinicius: que seca danada no meu Ceará... Só comia ferro e vidro, pode? E caía na caçada. Tanto é que depois de muito pelejado foi que ele, com o peso da lábia e sonetos tidos por líricos, ganhou no papo a hipnotizada Xantipa: Entendo nada do que você diz, mas soa bonito aos meus ouvidos. E assim finalmente quebrou o cabresto e perdeu a donzelice. Não era, diga-se, o devaneio desejado, todavia era real e dava pro gasto: fê-la dominante esponsal, uma ratita-do-pescoço vermelho, usada e abusada todo dia e o dia todo. Com o passar do tempo, a incompatibilidade de gênios e a monotonia ranzinza dela, fê-lo cair nas graças de Claudinavilta. Outra? Mas, tá! O ocorrido se deu no intervalo entre uma e outra: na fleumática sesta viu passar aquele pedaço de mau caminho. Danou-se! Avexou-se todo, realinhou-se dos pés à cabeça, testou o gogó, tudo nos trinques e partiu pra cima: deu pra ela um buquê de flores, dois poemas e um anel de zis quilates. Eita! Ela lá, reluzente decote no jeito mamãe-nunca-fui-casta, prontinha para ser esquartejada pelo priápico açougueiro. Aí, arrastou as asas chameguentas no capricho dumas redondilhas rimadas na sapecada duma trova de última hora: E lavou a égua! Melhor, a avestruz. Tornou-se o papa-tudo, lá-e-loa, noitedia. Depois plantou as mutucas pras bandas de uma ratita masai toda frochosa reboladeira: Marianetilma. De novo castigou nos versos, acochou na pose e afinou o gogó misturando as penas: só arrocho no meio dos risinhos, amassos de beijoqueiros, o sarro e mão de uma e outra pelas pernas e achegados, espremidos espalhafatosos, ais, uis e bis, lá estava ela completando o trio. Uma, duas, três. Contava e recontava. E ele no festejo: Entra pra dentro, Chiquinha! Xantipa recriminou: Será o seu Quequé? Foi uma barra gerenciá-las embaixo do mesmo teto. Saltava duma pra outra, pronto pra fazer o maior plantel. Descansava assobiando para delimitar o espaço territorial de seu habitat polígamo. O buraco ajeitado quase já uma cratera: o chocado era de 3, agora. E ele lá. Não demorou muito e foi a vez de Lindalvitina, uma ratita do oriente-médio, aquela mesma da sombra na abóbada da Madona de Brera - a Sacra Conversazione, de Piero della Francesca. É mesmo? Se, era. Era uma cantora ratita do pescoço-negro, seios dadivosos vibráteis e toda empinada quartuda. No ajeitado, ela se abaixava toda, titela emborcada, cangote de fora, ele só nela vasculhando cioso. Lavou a jega e quem mais viesse. E recontava do 1 ao 4, tome. E tinha vaga pra mais uma: nada abufelado e logo encarou nova caprichada na retórica desmetrificada duns versos livres juntados ao léu e conquistou Gervazilda, uma ratita somali. Nessa pisada completou o quinteto. Basta, né? Ah, era tempo dos ventos frios de fins de agosto anunciando a vindoura primavera e eis que seu coração não se viu imune diante das tentações da cheirosa Zuleidenalva Nandu, uma prima ema com as pernas nuas arrepiadas, patas de 3 dedos. U-lalá! Estava morta de sede e se abanando com um estandarte do brasão holandês potiguar. Deu-lhe de beber e muito perguntou, dela prontamente dar dos seus muitos passeios pelo Palácio da Alvorada. Foi mesmo? Mas, teco! Estava apaixonado pela plumagem pardo-acinzentada dela. Ah, minha flor do bogari! Acertaram os ponteiros e ele entrou nela adentro, que nem se mexia, enfiou, mandou ver, e desembainhou, fechando a braguilha de sair todo folote a babar de ancho. Tome 6! Sou macho ou não? Quebrou a regra e bateu o recorde: um sexteto. Só não esperava tê-la chegando de mala e cuia e nada sozinha - dois eunucos, o Emu e o Casuar, e de quebra uma Kiwi – uma ratita prima dos extintos pássaros-elefante de Madagascar, já quase adulta e, vai ver, não será, por isso, que uma Aepyornis resolvesse dá as caras justo agora, hem? Onde cabe um, cabem 9, ora. Que porra é essa, mulher? Minha bagagem completa: ou tudo ou nada. Virou carnaval de suruba. E foram não sei quantas alvoradas aos impados, esfregados e alvoroço de penas. Reinava entre as fêmeas - e as quase – numa folia exclusiva, sem que fosse poupado invariavelmente dos inconvenientes caprichos e dos achaques delas, bem empregado. O melhor: as 6 chocavam seus ovos da prosperidade – da verdade e do renascimento – durante o dia; e ele, mais os 3 achegados, de noite. Dentro do possível, parece, que foram felizes para sempre. E contando estrelas, caçaroladas, ofensas e beliscões, ele dormia com seu último verso: Sou as águas ondulantes de Maat. Até mais ver.

 

Clarice Niskier: Nós vivemos no mundo real e o mundo real é o da comparação. Mas existem outros terrenos onde você não pode e nem deve se comparar. Nesse terreno, no qual eu acredito, todo mundo tem seu espaço e sua beleza... Veja mais aqui & aquí.

Nan Goldin: É fácil transformar a sua vida em histórias. Mas é mais difícil sustentar memórias reais... A diferença entre uma história e uma memória real é que a experiência real tem um cheiro, é suja e não se resume a finais simples. As memórias reais são o que me afeta agora. Coisas podem aparecer que você não quer ver, onde você não está seguro, e mesmo que você não libere as memórias, o efeito está lá. Está no seu corpo... Veja mais aqui.

Zoe Kazan: Se algum dia eu sentir que atuar é simplesmente sugar minha alma e não quiser mais fazer isso, posso parar... Veja mais aqui.

 

EU ARRANCO TODAS AS FLORES DO MEU CORPO

Imagem: Acervo ArtLAM.

(Arranco todas as flores do meu corpo) \para oferecê-las a ti, Senhor. \ Lá vou eu, muito mais nua \ sem as florezinhas do meu torso, \ mais despida do que nunca \ sem as dálias que cresciam nas minhas costas. \ Salto sobre as pedras preciosas do infortúnio \ e o vento me ajuda a alcançar a areia. \ Senhor das Dores, meu todo-poderoso, \ até me despojo da flor da paixão e da coroa de helicônias \ que adorna meus pelos pubianos. \ Profundamente nua, \ para me entregar a ti sem os lírios do pescoço \ ou os girassóis do bumbum, \ pura, talvez a ilha insondável dos mistérios. \ E sem mais rosas, nem margaridas, \ nem violetas ofuscadas em meus seios. \ Estou limpa, promessa devolvida. \ Brilhante e sozinha para me entregar a você \ sem as astromélias do sexo, \ sem a flor azul do coração.

Poema da poeta periodista, ensaísta e gestora cultural equatoriana Aleyda Quevedo Rojas, autora de obra como Cambio en los climas del corazón (1989), La actitud del fuego (1994), Algunas rosas verdes (1996), Espacio vacío (2001), Soy mi cuerpo (2006), Dos encendidos (2008), La otra, la misma de Dios (2011), Jardín de dagas (2014), entre outros.

 

ESPALHADOS POR TODA TERRA - [...] Você pode dizer que quer uma sociedade sem classes, mas depois de embarcar em um navio grande e seguro, é difícil ter coragem de mudar para um bote. [...] Pensando bem, como somos todos terráqueos, ninguém pode ser residente ilegal na Terra. Então, por que há cada vez mais imigrantes ilegais a cada ano? Se as coisas continuarem assim, um dia toda a raça humana será ilegal. [...] Você não fala. Você fica em silêncio. Decidiu não dizer nada? Não estou tentando te forçar. Também não quero te criticar. Se alguém me perguntasse: "Por que as pessoas precisam falar, afinal?", não sei bem como responderia. Mas se o seu silêncio continuar assim, você não acha que isso pode levar à morte? Imagine dezenas de milhares de pessoas que nunca falam, vivendo em uma ilha. Elas têm o suficiente para comer e roupas para vestir. Elas também têm jogos e pornografia. Mas sem linguagem, elas decaem e morrem. [...]. Trechos extraídos da obra Scattered All Over the Earth (Tantor, 2022), da escritora japonesa Yōko Tawada, autora de obras como Memoirs of a Polar Bear (2016), akzentfrei. Literarische Essays (2016), The Emissary (2014), The Last Children of Tokyo (2014) e Where Europe Begins (1991). Veja mais aqui & aqui.

 

ABRAÇANDO A VULNERABILIDADE - [...] Coragem é um valor muito importante para mim. Está no mesmo nível da honestidade e do respeito [...] Vou além dos limites e faço coisas que talvez não sejam consideradas "convencionais", mas também prezo muito por coisas como boas maneiras e seguir as regras (mesmo quando estou trabalhando para mudá-las). [...] Não quero nem preciso que as pessoas assinem minhas crenças — só quero uma conversa sobre a importância de aparecer e nos deixarmos ser vistos. Acho que um senso coletivo de valor poderia abalar o mundo [...]. Trechos da entrevista Embracing Vulnerability: An interview with bestselling author Brene Brown (Quiet Revolution, 2016), da pesquisadora, escritora e palestrante estadunidense Brené Brown (Casandra Brené Brown), autora de obras como Daring Greatly: How the Courage to Be Vulnerable Transforms the Way We Live, Love, Parent, and Lead (2012), The Gifts of Imperfection (2010) e I Thought It Was Just Me: Women Reclaiming Power and Courage in a Culture of Shame (2007).

 

A ARTE DE JESSICA MARTINS

A arte da pintora, desenhista e escultora Jéssica Martins (Jéssica Martins Alves da Costa), que já participou de inúmeras exposições em Galerias, Museus, Salões e Espaços Culturais de Pernambuco. Veja mais aqui.

 

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segunda-feira, setembro 01, 2025

ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite, que possui mestrado em Performance Musical da Manhattan School of Music, em Nova York (EUA), com bolsa integral da Sociedade Cultura Artística. É doutoranda em Performance Musical pela Stony Brook University, instituição de Nova York (EUA). Ela é considerada um dos maiores prodígios contemporâneos no instrumento pela crítica especializada, figurando na lista Under 30 da revista Forbes, como destaque na música brasileira em 2020.

 

Dermeval: É melhor deixar pra amanhã, ou pra lá de vez... - Desde menino se remexia todo – quando não se contorcia, se balançava no gingado: brincava carnavalizante, aos giros ritmados foliava, pulava doidejantemente. Adolesceu meneando-se e, logo cedo, arrumou seus muafos e ganhou o mundo como um novilho de ponta limpa. Via de tudo e passou só pro que gostava: bailava ao seu modo, com declamações de versos e hestórias. Haja causo no sapateado do trupé. E era andejo mesmo. E tanto que logo ajeitou-se com Macrina, no meio duma noite deserta. Fugiram saltitantes pro Mar Negro e se arrearam ascetas. Ela então o conduziu ao culto de Terpsícore, a musa da dança, envolvendo-o com sua lira na ambrosia da alcova, festejados pelas sereias do rio Aqueloo. Ao despertar a solidão era seu domicílio, por dias e noites. Foi socorrido pela amabilidade de Paula, a outra irmã dela, que o levou à Baía de Bengala e lá recebeu de Shiva Nataraja o cajado de Okó e se amaram na dança cósmica. E rodaram entre sonhos e madrugadas, até a surpresa dum amanhecer ao lado de Olympia de Manet, a terceira irmã, que o levou à deusa Hathor no Templo de Dendera, com seu disco solar e chifres bovinos roçando a caixa dos peitos. E viu-se enrolado nos seus 7 Hatores, tomado pelo Olho das 4 Faces. A bem-amada celebrou como uma vaca e deu-se à cópula feito a Leoa Sacmis, no Conto de Fadas da Noite de Hoffman. Ali tornou-se o Homem de Areia e ela não mais: Cadê-la, hem? A surpresa foi renovada com Marietta, a Maria Baderna, como se fosse a deusa Laka, pronta para a dança de Hula. De mãos dadas foram conferir os vestígios da coreografia na gruta de Tuc d'Audoubert. De lá seguiram pelas rochas do Les Trois-Frères, aos movimentos dançantes pelas margens do Arièges. Com ela o devaneio duradouro de ser dançarino de nascença nas reencarnações de Parvati e, com ela, a xamã no ritual Kagura. E a fantasia o fez Don Lockwood como um cavaleiro domado pela paixão da Kathy Selden, na cena do bolo! Pra ela ele já era Gene Kelly, e aos píncaros da gloria o fez Fred Astaire. Era o ápice! Daí foram juntos pro Prelúdio do Fauno de Debussy no poema de Mallarmé e viram primeiro a arte de Nijinski, seguido da coreografia de Nureyev pro mesmo tema, afora o bônus das tantas piruetas do Quixote de Baryshnikov. Ali olhou pra ela e sorriu: Dá pra mim não, o que vão dizer lá em casa, ora! Tirante o balé, com ela dançou de tudo. E começou pelos lundus, só na umbigada de roda: Uê, uê... uê, uá... Uê, uê... uê, uá... A lua vai saí e eu vô girá. Vou caçá meu tatu, meu tamanduá... Depois se perfilaram enfileirados na da peiga, na do Peixe a pira-purasseia; na do Tipiti e na do pau-da-fita: Dança, dança, dançador \ dança com muito valor \ dancemos todos juntos \ cada qual com seu amor... Assim se embalaram na do Lelelé (aquela mesma do péla-porco, do Lelé), na do Tambor-de-Mina (e de-Crioula), na do Espontão, na do Chapéu e na de São Gonçalo: Chega, chega, companheira \ que já estamos empareada \ pedindo licença pro santo \ para a primeira jornada... Quem não canta nem dança \ o que veio buscar? \ só veio comer arroz \ e beber o aluá... E se encararam na do Divino, tudo pelas ruas, lama e sarjetas, aos gritos pela abolição, grevistas e a febre amarela no coro dos baderneiros de todas as plateias: Mané gostoso, perna de pau, salta da cama e cai no girau... Daí em diante ele perderam-se e ele tomou nas cuias dos quiabos: macambúzio solitário ao lado de uma trapezista ao desafio: Vai ou não? Fez sapateado até na corda bamba, equilibrista só no golpe de vista. E ficou na pestana da barata, catando os trapos. Peito apertado, aguçou sua espiritualidade: Deus dançava na sua paz interior e sorria. Valia-se de Nietzsche. Aprendia sozinho a mexer os pés como Hermes no mito de Odissi. E celebrou a imagem de Peratus (o Eratus) e tornou-se o andarilho de Copenhague - como se fora Kierkegaard, a decorar o Diário de um Sedutor. Recitava poemas de Byron ao se recolher no Walden de Thoreau. E lá todas as Cartas do Eremita em Paris, de Calvino. E se viu entre os Andarilhos de Coetzee, e se reencontrou com Leloup e os padres do deserto, no Monte Athos. Aprendia de si com Isócratis e Diógenes que era gago. Fez-se entusiasta de Cícero – aquele mesmo, Marco Túlio Cícero, de saber de cor as suas cartas descobertas por Petrarca. Proferia em seus monólogos públicos trechos do Alcorão, do Mahabarata, do Rigveda, dos Upanishads, das Mil e Uma Noites, do Decamerão de Boccaccio, do Satyricon de Petrônio, muitos sonetos de Shakespeare e os tantos de Manuel Bandeira. Foi num solilóquio crepuscular, quando menos esperava, passou-lhe às vistas uma beldade que ensaiava trôpega a Dança dos 7 véus, da ópera Salomé do Strauss. Eita! Enrabichou-se todo dela quase escapulir; nada, ela ia passando de nem vê-lo, indiferente, aí providente deu-lhe uma mucica dela chega arrear-se toda se encostando no passo da Jardineira - a que era a mesma de Cupido ou Arco de Flora -, e ela faceira: Eu sou uma jardineira \ que ando com meu regador \entre perpétuas e boninas \ rosa é a rainha das flores... Era Esmeraldina e com ela foi ao clímax: a dança dos tangarás. Dali foram parar no Santuário de Ise orando pela Paz Mundial e seguiram pela estrada da peregrinação do Furuichi, só para amanhecerem na folia da deusa Ame no Uzume atraindo Amaterasu. De lá foram para Madurai e, no Templo Meenakshi Amman, viram-se envolvidos pelos 4 braços da deusa Parvati, revelando-lhe a reencarnação da deusa Sati no Himalaia. Seguiram pelo rio Ganges porque ela agora era a sua divina Shákti. E remexeram juntos Odissi nos templos de Odisha e ambos os corpos contavam hestórias sobre as águas do Maniari, no Chhattisgarh. Aos versos se casaram e ela, a sua bela quetzalizti dos olhos de maracujá, tornou-se o orvalho de maio na preciosa ourivesaria barroca do Tesouro de Munique. Ela amarrou seu símbolo no braço esquerdo dele e pôs em sua língua a sua pedra úmida, aquosa e lunar - regenerava a vida dele com sua alma verde translúcida. Ela lavou-o com sua chuva e a luz percorreu todo o sangue dele pelo Oeste do mundo. Ela plena e primaveril deu-lhe as virtudes afrodisíacas de Rabelais e a pedra do Hermes na Tábua de Apolônio. O seu orvalho mercurial traspassou as densas trevas para presenteá-lo com o segredo da criação e de todas as coisas. Com seu talismã poderoso o protegeu das criaturas infernais, afastando víboras e najas e o feitiço das paixões prisioneiras. Deu-lhe enfim a sua divina homeopatia, o Graal e a imagem presente do Criador. E com ela avexou-se, arrumou sua loca - uma mei’água pra guardá-la e cuidar dos filhos. Tornou-se carteiro, pés prum lado, passadas proutro, caminhante das boas e más notícias. Era o que queria. De noite, no lar, emocionava-se com a Ardiente Paciencia de Skarmeta. E com a sua dama a rodopiar no salão: Maxixe é dança levada, toda cheia de caídos, em que a mulata é danada e o homem é todo mexido! Depois um tango, Por uma cabeza, de Gardel. Os filhos dormiam e mandavam ver com salsas, frevos, boleros, forrós, sambas de gafieira, bachata, foxtrote, quickstep, zouk, lambada, mambo, Chá chá chá, merengue e o escambau. Até inventaram algumas novas e próprias: a vida era deles. De dia, as correspondências eram entregues em troca de poemas, expondo a sua imensa coleção de terno e gravata: era vê-lo aos sapateados pelo meio fio das calçadas esperando a chuva chegar para dar seu espetáculo no acerto da bengala – Diziam: Aquilo é a arma do Mandrake, meu! Hehehehe. De noite, aos braços da amada, o embalo do amor. A quem perguntasse, respondia com um gole de café forte e amargo: Sou apenas um preto-velho, chamo-me Dermeval, o senhor indígena das ervas, um dançarino poeta. E todo casamento não podia faltar nem ele nem a Wedding March in C major de Mendelssohn; não havia baile de debutante sem ele e as Valsas de Strauss; não havia evento no coreto do centro da cidade sem seus elóquios ao som do maestro Zé da Justa & Orquestra 15 de novembro; muito menos festa no Club Litterário sem seu sarau e seus louvores poéticos. Preferia dançar e trabalhar a ter de encarar a miséria, a repressão e o irrespirável ambiente ao seu redor: a fuligem da usina explodia pulmões. Mantinha-se com seu atencioso senso paternal, apegado à família. Orgulhava-se de nunca ter tido de voltar atrás com nada, sempre ocupadíssimo, independente, equilibrado, perspicaz, controlador ao seu modo, espiritualizado – a dança levou-lhe a venerável maçon, imponente, reservadíssimo. Era um cavaleiro andante que viajava a pé, sempre no passo do jocotó e recitando umas quadrinhas. Como se dizia comumente por aqui: Era um digno homem de gravata lavada! Era o poeta no país das mil danças e sorria: Tudo o mais, ficará pra depois. Encontrei-o quase centenário – dizem que ele já passou e muito disso uns 2 séculos atrás. A mesma bengala lustrada, o mesmo riso terno, a mesma pose de fidalguia calma bem trajada e a sabedoria vivíssima na maior lucidez. Como vai, Dermeval? Esperando a morte, meu filho. Que é isso, homem? Melhor deixar pra morrer amanhã, né? Nada: a gente tem muito pra fazer, meu velho e bom amigo. Então, vamos e deixa o resto pra lá. E lá ia de vê-lo às costas de menino treloso, o peso da vida de todo planeta. Até mais ver.

 

Marilena Chaui: Desejo é relação entre seres humanos carentes. Por isso amamos até à loucura e odiamos até a morte: nosso ser está em jogo em cada e em todos os afetos. Desejo é paixão, diziam os clássicos... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Jennifer Egan: Vivemos em um momento e uma cultura em que a leitura está realmente em perigo. Não há como escrever bem, se você não está lendo bem... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Han Kang: O amplo espectro da humanidade, que vai do sublime ao brutal, tem sido para mim como uma difícil tarefa de casa desde a minha infância... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

I - Sentir qualquer coisa te perturba. \ Ser visto sentindo qualquer coisa te desnuda. \ Sob o domínio disso, prazer ou dor não importam. \ Você pensa o que eles farão, que novo poder eles adquirirão se me virem nua assim. \ Se eles virem você sentindo. \ Você não tem ideia do que. \ Não se trata deles. Ser visto é a penalidade.

II - Como seria viver em uma biblioteca de livros derretidos. \ Com frases escorrendo pelo chão e toda a pontuação arrumada no fundo como um resíduo. \ Seria confuso. \ Imperdoável. \ Uma grande aventura.

Poemas da premiada escritora canadense Anne Carson, autora das obras Red Doc (2013), Autobiography of Red (1998), Plainwater: Essays and Poetry (1995), Glass, Irony and God (1995) e Eros the Bittersweet (1986). Veja mais aqui & aqui.

 

O ÂMBAR DA LATERNA - […] É sempre preciso mais energia para unir e construir do que para destruir [...] Não é com aqueles que parecem diferentes de você que você deve ter cuidado. São aqueles que parecem humanos [...]. Trechos extraídos da obra The Lantern´s Amber (Random House, 2019), da escritora estadunidense Colleen Houck, autora de obras como Tiger's Curse (2011) e Tiger's Quest (2011).

 

DEIXE PRA LÁ - [...] Meu ponto é simples: os adultos terão opiniões negativas sobre você e tudo o que você faz. Deixe-os julgar. Deixe-os reagir. Deixe-os duvidar de você. Deixe-os questionar as decisões que você está tomando. Deixe-os estar errados sobre você. Deixe-os revirar os olhos quando você começar a postar vídeos online ou quiser reescrever o manuscrito pela 12ª vez. Em vez de perder tempo se preocupando com eles, comece a viver sua vida de uma maneira que te orgulhe de si mesmo. Deixe-me fazer o que eu quero fazer com a minha única e preciosa vida. [...] Se seus amigos não estão te convidando para um brunch neste fim de semana, deixe-os. Se a pessoa por quem você realmente se sente atraído não está interessada em um compromisso, deixe-os. Se seus filhos não querem se levantar e ir àquele evento com você esta semana, deixe-os. Tanto tempo e energia são desperdiçados forçando outras pessoas a corresponderem às nossas expectativas. E a verdade é que, se outra pessoa — uma pessoa com quem você está saindo, um parceiro de negócios, um membro da família — não estiver aparecendo como você precisa, não tente forçá-la a mudar. Deixe-a ser ela mesma, porque ela está revelando quem ela é para você. Apenas deixe-a e então você pode escolher o que fazer em seguida. [...] Concentrar-se no que você não pode controlar causa estresse. Concentrar-se no que você pode controlar torna você poderoso. [...]. Trechos extraídos da obra The Let Them Theory (Hay House LLC, 2024), da advogada, autora e apresentadora estadunidense Mel Robbins (Melanie Lee Robbins, nascida Schneeberger), atuando abordagem inovadora sobre mudança de comportamento, ela se tornou uma das palestrantes mais populares do mundo, treinando cerca de 60 milhões de pessoas todos os meses, tornando-se uma das principais vozes da atualidade no campo do desenvolvimento pessoal. Ela é autora de obras como The 5 Second Rule: Transform Your Life, Work, and Confidence with Everyday Courage (2017) e Stop Saying You're Fine: Discover a More Powerful You (2011).

 

CLUBE DE LEITURA DA ESCOLA DERMEVAL MIRANDA

Os estudantes da escola municipal em tempo integral, Dermeval Alves de Miranda, reúnem-se em um Clubinho de Leitura, com o objetivo de difundir o hábito da leitura, o compartilhamento de conhecimentos e o protagonismo estudantil, na cidade dos Palmares, em Pernambuco. Veja detalhes clicando aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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MARY OLIVER, TATIANA DE ROSNAY, BRENDA MILNER, OVOS DA RAPOSA & CONTEMPLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Scriabin: Sinfonia nº 2 - The Poem Of Ecstasy (2023), Danielpour: Passion of Yeshua (2020)...